Misturas em tanque de agroquímicos: o que é compatível e permitido?

Um estudo realizado pela Embrapa constatou que 97% dos agricultores brasileiros realizam a mistura de agroquímicos em tanque para reduzir custos no combate à doenças e pragas na lavoura. Apesar disso, o tema é bastante polêmico, pois é uma prática que carece tanto de regulamentação quanto de estudos que guiem o produtor rural nessa tarefa.

Por isso, preparamos este post para ajudar você a sanar as principais dúvidas sobre a mistura em tanque e indicar quais são as melhores práticas. Confira!

Por que misturar defensivos no tanque de agroquímicos?

A mistura de agroquímicos contribui para que o produtor consiga fazer o controle de diferentes pragas e doenças com um custo-benefício mais interessante, uma vez que se reduz a quantidade de pulverizações na lavoura. Em vez de aplicar inseticida, fungicida e nutrientes separadamente, isso é feito de uma vez só, reduzindo o custo final da produção.

É uma prática amplamente utilizada pelos agricultores brasileiros. No entanto, isso levanta algumas preocupações, especialmente referente à compatibilidade entre os produtos misturados. A incompatibilidade poderia alterar a composição física e química das soluções e anular ou enfraquecer a eficácia dos defensivos.

Que substâncias são mais compatíveis?

Algumas pesquisas têm sido realizadas para tentar concluir quais princípios ativos são compatíveis entre si. Sabe-se que a combinação de insumos e defensivos terá um dos 3 resultados seguintes:

  1. efeito aditivo: não há alteração na eficiência dos produtos misturados;

  2. efeito sinérgico: um produto potencializa a ação do outro;

Assim, estudos buscam montar quadros de compatibilidade para a mistura de agroquímicos. Por exemplo, a Universidade Estadual Norte do Paraná (Bandeirantes, PR) fizeram essa análise em parceria com a Embrapa e a DBO. Fizeram testes com cerca de 140 produtos para avaliar as compatibilidades tanto químicas quanto físicas nas misturas em tanque.

O resultado foi disponibilizado pela Revista Agro DBO em um tabela que informa as compatibilidades para soja e milho. O material que pode ser adquirido gratuitamente em formato impresso ou eletrônico.

Por não ser uma prática regulamentada, as bulas não costumam falar muito sobre a compatibilidade física e química com outros produtos. No entanto, há empresas que fazem testes de misturas e emitem relatórios sobre os resultados. Consultá-las também é uma possibilidade.

A ordem dos fatores altera o produto?

Existe sim uma ordem para adicionar os produtos na mistura. Normalmente, inicia-se pelos mais difíceis de serem solubilizados em calda — em pó ou em grânulos. Depois, vão os mais líquidos e mais fáceis de serem diluídos. Essa ordem é muito importante.

O erro muito comum, porém, é a falta de comunicação com a pessoa ou com a própria fornecedora dos produtos para buscar informações sobre a possibilidade ou não de misturar com algum tipo de produto específico. Isso pode resultar em desperdício, pois o agricultor faz a mistura sem uma consulta prévia e acaba perdendo a calda.

Como essas misturas são muito comuns, muitas vezes a empresa já fez essas análises, pelo menos com as principais culturas. Então, ela sabe se vai ter algum problema ou não.

As misturas podem afetar a durabilidade do equipamento?

Não. Mas vale ressaltar que, à medida que se aumenta o número de produtos na mistura, a tendência é perder o controle das reações que vão ocorrer. Pode chegar ao ponto de ficar impossível detectar a causa de efeitos adversos.

Para se obter um média, um estudo direcionado pelo pesquisador Dionísio Grazziero, em 2015, revelou que os agricultores brasileiros realizam misturas que levam de 2 a 7 produtos diferentes. Esse número variava dependendo da intensidade de aplicação, do tipo de cultura e do tamanho da propriedade.

Que cuidados devem ser tomados no preparo da calda?

Existem diversos aspectos que precisam ser levados em conta para não só garantir a eficiência do processo de pulverização, mas também para manter a integridade do agricultor e a segurança dos alimentos. Entre as principais recomendações, estão:

  • utilize Equipamentos de Proteção Individual (EPIs);

  • realize o preparo em local sombreado, aberto e com boa ventilação;

  • não entre em contato direto com os produtos;

  • evite os períodos de alta temperatura ou em outras condições climáticas adversas, como ventos fortes e chuvas;

  • utilize materiais específicos para o preparo e a mistura, como balanças, baldes e copos graduados;

  • verifique e corrija o pH da água, se necessário;

  • informe-se sobre a compatibilidade entre os produtos;

  • feche todas as embalagens e armazene-as adequadamente.

Como cuidar da manutenção da máquina?

Para garantir a eficiência da operação, os pulverizadores precisam ser regulados por meio da calibração. Além disso, escolha bicos adequados à velocidade, às condições climáticas, ao modo de aplicação, ao produto e à lavoura. Existem ferramentas que ajudam nessa escolha, como o SmartSelector, um aplicativo que utiliza as diversas variáveis para sugerir o melhor bico de pulverização.

Existe um número máximo de produtos que podem ser misturados ao mesmo tempo?

Não. Interessante que um estudo direcionado pelo pesquisador Dionísio Grazziero, em 2015, revelou que os agricultores brasileiros realizam misturas que levam de 2 a 7 produtos diferentes. Esse número variava dependendo da intensidade de aplicação, do tipo de cultura e do tamanho da propriedade.

O que a lei diz sobre as misturas?

Apesar de não ser ilegal, a mistura não é regulamentada, de modo que os agrônomos não podem prescrevê-la. No entanto, já existe uma iniciativa no governo para regulamentar a prática por meio de uma Instrução Normativa. A previsão é que isso ocorra ainda em 2018.

Apesar da falta de regulamentação, a prática é comum no Brasil desde os anos 80, sendo muito importante para a reduzir o desperdício, manter os preços competitivos e garantir a safra.

No Rio Grande do Sul, por exemplo, existem muitos agricultores de maçã que aplicam a mistura ao menos uma vez por semana, porque o clima é muito úmido e há várias doenças causadas por fungos que causam problemas no fruto. Se eles não fizessem a mistura, haveria um desperdício enorme de diesel nas repetidas pulverizações de cada produto.

Em outros países, como os Estados Unidos, as misturas já são regulamentadas há anos e o Brasil tende a seguir o mesmo caminho, apesar de estar atrasado.

Com a regulamentação da mistura de agroquímicos, essa prática deve ser mais amplamente discutida e com mais estudos e pesquisas que possam ajudar o produtor rural a aumentar a eficiência na aplicação de defensivos agrícolas, ao mesmo tempo que reduz os custos da produção.

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10 Comentários

  1. precizo tabela da orrdem de adicao das formulacoes ao tanque

    1. Luis, as tabelas, além da versão impressa, encartada na revista Agro DBO, poderão ser obtidas gratuitamente junto às revendas da Jacto, ou solicitadas através do e-mail redacao@agrodbo.com.br. Os interessados também podem fazer download das tabelas no Portal DBO (https://portaldbo.com.br/), bastando para isso identificar-se com seu nome, e-mail e cidade.
      Agradecemos a sua companhia aqui no Blog, toda semana temos conteúdo novo. Abraço!

    2. Fitofármacos
      Biocidas
      Não-tóxicos
      Fertilizantes
      Sementes
      Ordem de mistura de produtos
      Quando houver necessidade de misturar vários produtos fitofarmacêuticos, deve adicionar-se em primeiro lugar as formulações sólidas (grânulos dispersíveis, pó solúvel e pó molhável) na água da calda até obter uma mistura homogénea, e só depois juntar as formulações líquidas.

      Deve ainda ter-se em atenção o tipo de formulação dos mesmos para a sua ordem de introdução na calda:

      Grânulos dispersíveis em água (WG)
      Pó solúvel em água (SP)
      Pó molhável (WP)
      Suspensão concentrada (SC)
      Emulsão óleo em água (EW)
      Emulsão de água em óleo (EO)
      Concentrado para Emulsão (EC)
      Solução concentrada (SL)
      Adjuvantes (molhantes, óleos, etc.)

  2. Boa tarde, pela importância do Tema (até porque sou consultor da BASF e levantamos a questão a mais de 15 anos, realizando palestras sobre MISTURAS de tanque) o artigo acima é muito vago e está muito longe de explicar o assunto como merece. Existem, não duas, mais quatro possibilidades de misturas: ADITIVAS, SINÉRGICAS, ANTAGÔNICAS E ANÁLOGAS. Pode ocorrer dentro do grupo de fungicidas, dentro do grupo de inseticidas e dentro do grupo dos Chromicidas.

    1. Francisco, agradecemos o seu contato e o interesse pelo tema.
      Realmente esse tema tem uma abrangência muito maior do que está no artigo do blog. A proposta foi dar início a uma pequena introdução do tema para aqueles que nos acompanham e com certeza teremos mais assuntos ligados a misturas em tanque, abordando os principais temas, trabalharemos para o detalhamento e esclarecimento principalmente no ponto de vista das misturas de defensivos com o pulverizador.
      Continue nos acompanhando, teremos mais assuntos relacionados.
      Abraço!

  3. Bom dia a todos. Realmente é um tema bastante polemico,vez que nem todos os produtores, preparadores e aplicadores seguem à risca os cuidados inerentes aos
    processos e procedimentos. Outra preocupação minha, pois presto serviços de instrutoria e consultoria (SENAR e SEBRAE), é referente há alguns específicos dos grupos inibidores de colinesterase, se for o caso, fizerem parte dessa mistura? E ainda caso haja uma contaminação e os antídotos serem diferentes entre si? Creio que esse tema merece uma audiência pública e/ou Congresso Brasileiro de Agronomia. Gostaria imensamente de maiores detalhes e informações.

    1. Luciano,
      Atualmente a Mistura em tanque está regulamentada e passa a ser de responsabilidade do agrônomo na prescrição.
      https://blogs.canalrural.uol.com.br/ultimasdebrasilia/2018/10/11/no-dia-do-agronomo-mapa-regulamenta-mistura-de-tanque/
      Porém, quando se trata de uma molécula especifica precisa realmente contatar a empresa detentora desta defensivo para esclarecer as dúvidas.
      Obrigado por nos acompanhar, toda semana temos conteúdo novo.

  4. Saudacoes,

    Este tema eh realmente polemico. Sobre pena de por vezes achar que estamos optimizando os custos ao passo que estamos aumentanto quando nao bem feita a mistura. Ha diversos factores a levar em conta antes da realicao da mistura, a questao da resistencia nao deve ficar de fora, o impacto ambiental e na saude tambem devem ser observados.

    Nao consigo obter a tabela modelo para mistura da qual falaram acima. Sobre a mistura dos pesticidas, sei que nao se deve fazer para os produtos do mesmo grupo quimico.

  5. Saudações.
    Gostaria de saber se pode misturar produtos e se a ADAPAR não questiona isso se por um acaso eles aparecerem um dia em uma pista? Pois estou elevando muito meus custos com aplicações.

    1. Olá Claudemir. Você pode conferir um pouco do que a ADAPAR diz sobre misturas de agrotóxicos no link: https://bit.ly/3xtWguJ. ????

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