
Refúgio agrícola: o que é e como adotar na sua fazenda?
Quando vemos aquelas belas fotos de lavouras, feitas do alto, podemos notar alguns buracos entre as linhas das culturas. Isso não significa terreno improdutivo, muito pelo contrário. É grande a chance de que aqueles “vácuos” sejam os chamados refúgios agrícolas.
Uma área de refúgio agrícola é fundamental para o controle de pragas e um bom manejo de produtos transgênicos. Para apresentar o conceito, a importância dessa prática e os principais modelos para que você adote em sua propriedade, preparamos este post. Siga a leitura!
O que é refúgio agrícola?
O refúgio é uma área de plantio utilizada por agricultores que trabalham com sementes que têm a tecnologia Bt — a sigla se explica pela inserção de genes da bactéria Bacillus thuringiensis.
Na prática, implementar o refúgio é cultivar áreas com plantas que não sejam Bt, em culturas como soja, milho e algodão. Desse modo, você evita a aparição e também a propagação de pragas mais resistentes, que não somem facilmente com a utilização de inseticidas contidos na tecnologia.
Assim, os insetos presentes na área de refúgio cruzarão com os insetos da área Bt e vão gerar novos indivíduos híbridos, que serão suscetíveis à ação da tecnologia.
A tecnologia Bt
A tecnologia confere às plantas a capacidade de resistir a determinados insetos-praga. O “Bt” do nome se refere ao nome científico da bactéria, um microrganismo que se desenvolve e habita o solo. Ela é capaz de produzir cristais de proteína, que apresentam propriedades tóxicas a muitos outros insetos que vivem nas lavouras.
Entre eles, estão as lagartas (lepidópteros), besouros (coleópteros) e moscas (dípteros). Já são mapeados aproximadamente 70 grupos dessas toxinas, classificadas como Cry, Vip ou Cyt. Após serem isoladas e manipuladas geneticamente, são inseridas no DNA de plantas das lavouras mais cultivadas no Brasil (como a soja ou o milho).
Como adotar na fazenda?
O refúgio agrícola pode ser implementado de 4 maneiras diferentes nas propriedades: em bloco, em faixas, em campo próximo, em bordadura (ou perímetro). Esta montagem do Ministério da Agricultura ajuda a entender cada um dos métodos.
Em qualquer cultura plantada, a distância entre um refúgio e o outro deve ser, necessariamente, de 800 metros. As plantas de cada um devem ser da mesma cultura daquela plantação e também apresentar porte e ciclo iguais aos da variedade Bt.
Durante o planejamento da safra, produtores precisam prestar atenção às sementes que não sejam Bt que utilizarão na aplicação da técnica. Por isso, é crucial que sejam seguidas as porcentagens recomendadas pelas melhores práticas: 20% para algodão, soja e cana; 10% para o milho. Para o manejo adequado, é recomendado que seja usada a menor quantidade possível de inseticidas.
O que é uma área de refúgio?
Ela é a área do talhão, cultivado com culturas que contenham a tecnologia Bt, mas semeada com sementes convencionais. Elas devem ser posicionadas a uma distância máxima de 800 metros da plantação com tecnologia Bt. Adiante no texto, veremos as medidas exatas de acordo com cada cultura.
As áreas de refúgio garantem que as pragas mais resistentes que surgem na lavoura Bt possam cruzar com insetos mais suscetíveis, o que resulta em uma nova geração — sem tantos indivíduos resistentes. Um detalhe sobre as plantas Bt é que seus primeiros anos costumam não sofrer com tantas pragas.
Conforme as safras se sucedem, essa eficiência do controle diminui. Isso porque há um aparecimento mais rápido de insetos resistentes, que se acostumam com o novo plantio. Outra dica interessante para combater o problema é a utilização de cultivares convencionais com ciclo parecido às plantações melhoradas geneticamente.
Tal ação faz com que as pragas estejam presentes nas duas áreas ao mesmo tempo, isso faz com que agricultores possam unificar a estratégia de combate e insetos diferentes cruzem entre eles. Como podemos ver, a utilização das áreas de refúgio é fundamental para manter a eficiência e as vantagens da tecnologia Bt.
Só não se esqueça de distribuir as áreas de maneira uniforme para que as pragas das duas áreas se encontrem e cruzem entre si, gerando insetos menos resistentes e mais fáceis de controlar.
Qual a porcentagem que deve ser destinada à área de refúgio?
Como vimos anteriormente, há uma diferença de porcentagem da área de refúgio recomendada, de acordo com cada cultura. Para o milho, são indicados 10%, enquanto para o algodão e soja, o ideal é a separação de 20% de refúgio.
Além disso, para implementar o refúgio agrícola de forma eficiente, é muito importante respeitar o limite: 800 metros de distância entre uma plantação transgênica e a área de refúgio. Diferentemente da porcentagem, essa ação vale para todas as culturas.
Escolha bem a localização da sua área para que ocorra o maior número possível de acasalamento entre os insetos das duas áreas. E, por fim, não considere que as propriedades vizinhas sejam áreas de refúgio, mesmo que elas também adotem essa prática.
O perigo de considerar a área vizinha como a área de refúgio é porque é grande a chance de que a porcentagem e o limite de 800 metros sejam desrespeitados. Do mesmo modo, o cuidado para que o acasalamento seja feito entre diferentes insetos pode ser comprometido.
Qual sua importância no cultivo e produção de plantas transgênicas?
As áreas de refúgio são recomendadas justamente para que o aumento da resistência das pragas que atacam a lavoura não coloque em risco a tecnologia das sementes transgênicas.
Portanto, podemos dizer que a área de refúgio é a principal estratégia que produtores têm para evitar a quebra de resistência dos transgênicos, além de manter o equilíbrio ecológico e a produtividade das lavouras. Agricultores que não adotam a técnica serão os primeiros a sofrer com prejuízos.
Afinal, quando não há estímulos à migração dos insetos, a tendência é que as mariposas que surjam em uma determinada área permaneçam ali.
Qual a importância das áreas de refúgio no cultivo da soja?
Bom, como vimos até aqui, a adoção do refúgio agrícola é essencial para retardar e até eliminar o desenvolvimento de pragas mais resistentes aos inseticidas contidos nas culturas Bt. Assim, caso ele não seja colocado em prática, corre-se o risco de que os insetos mais adaptados fiquem na lavoura, o que resultará na perda de eficiência da tecnologia Bt.
Consequentemente, há redução de produtividade. Além disso, monitorar a plantação é fundamental para que a colheita seja boa. No caso da soja, uma das práticas mais recomendadas nesse acompanhamento é o pano de batida. Isso porque ele possibilita que você consiga identificar a flutuação populacional das pragas da soja e planejar e executar o manejo e o controle.
Com a amostragem das pragas na utilização do pano, você conseguirá verificar os tipos de insetos encontrados e escolher os melhores métodos de controle para manter a sua lavoura produzindo de maneira favorável.
Como vimos no artigo, um refúgio agrícola é uma área fundamental para combater pragas e alcançar o máximo potencial em lavouras transgênicas, por exemplo. Ao seguir algumas recomendações, você terá um método muito eficiente para enfraquecer os insetos que assolam a sua plantação, independentemente das estações do ano e da biodiversidade do local.
Tão importante quanto controlar as pragas é cuidar do terreno. Então, aproveite e leia sobre como evitar a degradação do solo!