
Conheça o panorama da agricultura na América Latina
A região latino-americana, na maior parte das definições, compreende todos os países do continente americano, exceto os Estados Unidos e o Canadá. A produção agrícola é uma das suas principais atividades econômicas e destaca os países integrantes no cenário mundial.
Neste post, você vai conhecer mais sobre a história da agricultura na América Latina e como está seu desempenho em escala global. Acompanhe!
História da agricultura na América Latina
Podemos dividir sua trajetória em três fases importantes. Veja abaixo maiores detalhes.
Período pré-colombiano
Antes da chegada dos europeus, várias civilizações indígenas, como os maias, astecas e incas, praticavam a agricultura em grande escala. Eles cultivavam uma enorme variedade de culturas, e muitas delas foram apresentadas ao mundo graças a esses povos, incluindo:
- milho (Zea Mays) — essa cultura foi domesticada por povos indígenas na Mesoamérica e nas regiões andinas da América do Sul, em um processo que começou há cerca de 9.000 anos;
- tomate (Solanum lycopersicum) — é nativo da região andina da América do Sul, que inclui partes do atual Peru, Equador e Bolívia. Depois que foi levado para a Europa, começou a ser cultivado e apreciado especialmente na Itália e na Espanha, onde passou a ser usado em uma variedade de pratos culinários;
- abóbora (Cucurbita pepo) — além de ser importante na dieta das civilizações, a abóbora também tinha usos variados, incluindo como recipiente;
- cacau (Theobroma cacao) — antes de ser descoberto pelos europeus, uma curiosidade interessante é que os maias usavam os grãos de cacau para preparar uma bebida amarga e espumosa chamada “xocolātl”, que tinha importância ritual e social. Já os astecas utilizavam as sementes como moeda de troca.
Além disso, essas sociedades contribuíram com técnicas agrícolas sofisticadas. Algumas são difundidas e aplicadas até hoje, como a rotação de culturas, a construção de terraços nas montanhas (particularmente no Império Inca) e a criação de chinampas (ilhas artificiais) nas regiões lacustres dos astecas.
Chegada dos europeus
No século XV, a agricultura na América Latina sofreu transformações profundas com a chegada dos colonizadores. Eles introduziram novas culturas, como trigo, cana-de-açúcar, café e arroz, além de implantar sistemas de plantation, voltados para a exportação de produtos agrícolas.
Esse sistema, caracterizado pelo cultivo monocultural em grande escala e pela utilização intensiva de mão de obra predominantemente escravizada, tornou-se o principal modelo de produção agrícola em muitas regiões, especialmente no Caribe e no Brasil.
Revoluções do século XIX e XX
Após as independências dos países latino-americanos no início do século XIX, a agricultura continuou a ser a base das economias da região.
O sistema latifundiário, com grandes extensões de terra concentradas nas mãos de poucas famílias, prevaleceu em muitos países, o que limitou o acesso para a maioria da população rural. Esse sistema gerou desigualdades sociais profundas e conflitos agrários que perduram até hoje.
No século XX, a “revolução verde” trouxe mudanças significativas, com a introdução de novas variedades de sementes e insumos agrícolas, que elevaram a produtividade a outro patamar.
Evolução da agricultura na América Latina
O grande marco para os avanços da agricultura na América Latina foi a Revolução Verde. Os primeiros movimentos tiveram início nos Estados Unidos, por volta da década de 1940. A partir desse ponto, expandiram-se rapidamente para outros países das Américas, alcançando a maioria do desenvolvimento na década de 1970.
As inovações tinham como objetivo aumentar a produtividade agrícola. Entre as mudanças implementadas, destacam-se as sementes híbridas, que resultam do cruzamento de duas ou mais linhagens puras, melhorando a produtividade e a resistência contra doenças e pragas.
Também se destacam os insumos químicos, compostos que fornecem nutrientes essenciais, como fósforo, nitrogênio e potássio, para o desenvolvimento das culturas. Por fim, temos os defensivos agrícolas, substâncias químicas utilizadas no controle de ervas daninhas, doenças e pragas.
Atualmente, podemos desfrutar de uma tecnologia integrada, como a Agricultura de Precisão, que desempenha um papel central na busca por novas tecnologias e melhorias nas plantações. Esse modelo agrícola se baseia na observação, monitoramento e gestão cuidadosa de todos os insumos necessários, bem como de toda a plantação.
As novas tecnologias surgiram para atender a essas demandas, possibilitando resultados favoráveis e um aumento significativo na produção.
Papel da agricultura na América Latina
Contribuição econômica
A agricultura desempenha um papel fundamental nas economias da América Latina, contribuindo com valores que variam de 5% a 18% do PIB em 20 países da região.
Quando se considera a influência mais ampla dos sistemas alimentares, a importância do setor é ainda maior. Ele é vital para fomentar o crescimento econômico, estimular o comércio, criar empregos, aumentar a arrecadação e combater a pobreza.
Segurança alimentar
A região, especialmente o nosso país, cultiva uma vasta gama de produtos agrícolas que garantem a segurança alimentar por todo o globo, como café, soja, frutas tropicais, milho, cana-de-açúcar etc.
Desenvolvimento rural
Para reduzir a dependência da agricultura de monoculturas, muitos países incentivaram o desenvolvimento e a diversificação econômica nas áreas rurais. Esse aspecto incluiu a implementação de agroindústrias, turismo rural, produção de biocombustíveis e outras atividades que agregam valor aos produtos agrícolas e criam novas oportunidades de emprego.
Agricultura na América Latina atualmente
Pequenas propriedades
A agricultura é uma atividade econômica vital nos países latinos, visto que grande parte das suas terras é utilizada para o cultivo. Uma característica interessante da região é que cerca de 70% da produção agrícola vêm de pequenas e médias propriedades, sendo a 8ª produtora de alimentos do mundo, especialmente de feijão, batata, inhame, milho e mandioca.
Apesar de terem uma grande participação no mercado, essas propriedades não adotam tecnologias avançadas, o que justifica sua baixa produtividade. A falta desse tipo de recurso é explicada, em grande parte, pela ausência de incentivos financeiros e pela pouca divulgação de informações que permitam modernizar seus meios de produção.
Agricultura familiar
Nesse contexto das pequenas propriedades, há uma atividade essencial para a produção agrícola latina: a agricultura familiar. São fazendas geridas por famílias que consideram a atividade agropecuária como sua principal fonte de sustento.
Essa modalidade é tão importante e abrangente que, segundo dados da publicação Agricultura Familiar na América Latina e no Caribe, estudo dirigido pela IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a agricultura familiar é responsável por cerca de 80% da produção, sendo a principal fonte de vagas de emprego na zona rural.
No Brasil, segundo o portal da Embrapa, as propriedades rurais familiares estão espalhadas por mais de 80 milhões de hectares — isso corresponde a 23% do total do território agrícola no país. Sua atividade é tão intensa que chega a representar 38% do Valor Bruto da Produção (VBP) agrícola.
A agricultura familiar, inclusive, é vista pela FAO como um dos principais caminhos dos países para erradicar a fome, sendo o foco de muitas economias para direcionar as políticas públicas.
Grandes latifúndios
Na América Latina, são encontradas também grandes propriedades, em sua maioria em regimes de produção monocultural para exportação, com lavouras de cana-de-açúcar, café, cacau, trigo, frutas regionais e soja.
Tais latifúndios, ao contrário dos pequenos produtores, contam com subsídios do governo para a facilitação de créditos. Muito disso se deve à pressão de países importadores que necessitam dos itens produzidos por essas grandes propriedades.
Desafios da agricultura na América Latina
Segundo a publicação Perspectivas da Agricultura e do Desenvolvimento Rural nas Américas, o maior desafio para a agricultura na América Latina é alcançar uma produtividade sustentável. A ideia é que vantagens econômicas sejam distribuídas com igualdade entre os trabalhadores rurais.
Apesar do significativo progresso nas práticas agrícolas observado nos últimos anos, refletido no aumento das colheitas, os esforços ainda não têm sido suficientes para promover uma verdadeira melhoria na realidade social dos cidadãos rurais. Um desenvolvimento realmente sustentável deve se basear em três eixos:
- proteção ao meio ambiente;
- inclusão social;
- expansão econômica.
Outro tema de grande debate atualmente são as mudanças climáticas e seus efeitos sobre a produção em escala global. Com o aumento das temperaturas, diversas culturas poderão enfrentar perdas consideráveis, além de dificuldades relacionadas ao financiamento rural e à proteção dos produtores.
Isso pode gerar riscos ao abastecimento e, em última instância, comprometer a segurança alimentar, com a possibilidade de proliferação de patógenos e aumento do risco de pandemias. Esse cenário pode ser agravado pela escassez de água e pela ocorrência de fenômenos extremos, como secas severas e tempestades intensas.
Culturas da agricultura na América Latina
A agricultura na América Latina é praticada de forma intensa de, pelo menos, duas formas:
- subsistência, com a adoção de práticas primitivas de cultivo, sem o uso de tecnologias que possam otimizar os meios de produção, limitando a atividade;
- comercial, marcada pela monocultura, ou seja, o plantio de uma única cultura em uma grande área.
Vamos conhecer, então, algumas das principais culturas da região.
Café
O café é a base da agricultura de exportação em países como El Salvador, Guatemala, Costa Rica e Colômbia, com o último sendo o maior produtor do mundo da variedade arábica lavada. Tradicionalmente, esse é o cultivar mais produzido entre os países latinos.
De acordo com o Relatório sobre o Mercado de Café de 2023 da OIC (Organização Internacional do Café), dos 10 maiores países produtores desse grão, 5 são latino-americanos. O Brasil continua a ser o maior produtor mundial, respondendo por aproximadamente 38% da produção global.
Soja
A América Latina concentra hoje cerca de mais da metade da produção de soja, com Brasil, Argentina e Paraguai produzindo na escala dos 217 milhões de toneladas. Os países, em conjunto, adicionarão 22,55 milhões de toneladas (11,6%) à produção global, o que ampliará a influência do bloco sul-americano na oferta mundial do grão.
E os números são ainda mais promissores: segundo estimativas da FAO, o Brasil deve ultrapassar os Estados Unidos como o maior produtor de soja do mundo até 2025.
Cana-de-açúcar
O Brasil é o maior produtor do mundo de cana-de-açúcar, com recorde histórico segundo a Conab. Foram mais de 713 milhões de toneladas produzidas somente na safra 2023/2024. Junto com a Índia, o país reúne mais da metade da produção mundial. Essa safra gramínea tem dois destinos: produção de açúcar e de álcool.
Milho
Mais uma vez, o Brasil e a Argentina são os principais responsáveis pelo destaque da América Latina na produção global desse grão. De acordo com a Conab, a safra de 2023/2024 em nosso país está estimada em 294,1 milhões de toneladas.
Melhorar a eficiência dos serviços agrícolas é o foco das tendências esperadas para os próximos anos. Há uma crescente integração de tecnologias avançadas no cotidiano das operações agrícolas, assim como a adoção de práticas sustentáveis para alinhar-se aos novos padrões de consumo da população.
A agricultura na América Latina apresenta uma grande diversidade, que dá destaque à região no cenário mundial em diversas culturas — tendo o Brasil como uma das figuras mais proeminentes. Todas as tecnologias e máquinas devem levar em conta essas especificidades, adaptando-se a cada contexto. Isso contribuirá para um desenvolvimento sustentável e sempre crescente.
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21/12/2018 às 15:43
Realmente seria melhor se os pequenos produtores tivessem apoio financeiro do governo para o cultivo. Assim além de estimulá-los em suas plantações, também reduziria o êxodo rural. Parabéns pelo post.
16/01/2019 às 12:47
Juscélia,
Obrigado pelo seu retorno e muito obrigado por nos acompanhar por aqui no Blog.
Conte sempre com a Jacto.
15/02/2019 às 14:43
Muito bom, Brasil é um país muito rico, só falta investir mais nos pequenos produtores, parabéns pela matéria.
18/02/2019 às 07:33
Samuel, bom dia.
Concordamos com você, estamos juntos nessa luta.
Obrigado por nos acompanhar.
Abraço!
17/04/2019 às 22:22
Senti falta de terem feito alguma análise referente a agricultura irrigada. Estima-se que a América Latina tenha em torno de 24 milhões de hectares irrigados, sendo mais da metade no Brasil e no México.
A agricultura irrigada potencializa a sustentabilidade pois permite segurança na produção, produzir na época certa, explorar culturas de maior valor agregado (principalmente na agricultura de pequeno porte), gera mais empregos e com características mais estáveis. Do ponto de vista ambiental, desde que seja feita com eficiência e que a captação de água seja feita em base técnica (outorga) a agricultura irrigada consegue produzir mais em menor área, diminuindo o risco de expansão desordenada.
18/04/2019 às 13:50
Everaldo,
Ótima observação essa sua, com certeza faremos um outro artigo abordando essas questões da agricultura irrigada.
Muito obrigado por nos acompanhar e pela sugestão de pauta.
Abraço!
04/06/2019 às 17:08
Exatamente Samuel o problema é que o Brasil muitas vezes prefere valorizar os de fora do que nós é lamentável.