Tecnologia e sustentabilidade na agricultura: o que esperar dessa junção?

O mundo chegou a oito bilhões de pessoas em 2022, conforme dados da Organização das Nações Unidas (ONU). Esse marco também representa um grande desafio: garantir a segurança alimentar que atenda à população crescente. Nesse cenário, a junção entre tecnologia e sustentabilidade na agricultura tem um papel primordial.

O atual contexto pede que o agronegócio brasileiro adote estratégias de desenvolvimento conscientes, para alcançar metas sustentáveis e superar gargalos. Como um protagonista fundamental, o Brasil necessita de políticas públicas alinhadas com as práticas de conservação, que abordem não apenas questões ambientais, mas também socioeconômicas complexas que demandam soluções de longo prazo.

Quer entender como as inovações tecnológicas serão o braço direito nesse processo? Continue a leitura e confira o cenário atual dessas implementações, com as novidades e as políticas públicas relevantes para essa fase.

Quais as tecnologias emergentes no campo?

Se você busca promover uma melhor união entre tecnologia e sustentabilidade na agricultura, acompanhe quais são as principais inovações para tornar essa realidade possível.

Agricultura de precisão

A agricultura de precisão é um conjunto de tecnologias e instrumentos com os quais o agricultor pode fazer o gerenciamento localizado das lavouras, para otimizar o sistema produtivo, aumentar o retorno econômico e reduzir o impacto ambiental.

Seu funcionamento se dá graças aos Sistemas Globais de Posicionamento por Satélite (GNSSs). Esses recursos são vitais para o manejo localizado, o que permite determinar a localização geográfica dos atributos a serem analisados ou estabelecer com eficiência os trajetos para o deslocamento dos equipamentos.

Com ela, podemos usufruir de diversas aplicações para uma agricultura 4.0 de excelência. Confira as principais.

Amostragem georreferenciada

Sua principal função é identificar áreas dentro do talhão que apresentam comportamentos ou características diferentes — no teor de algum nutriente, na produtividade, na textura do solo, entre outros aspectos. Essas diferenças são conhecidas como variabilidade espacial.

Mapeamento de operações da lavoura

Seu objetivo para a tecnologia e a sustentabilidade na agricultura é registrar a produtividade e identificar suas variações dentro do talhão. Inclusive, o mapa de colheita é considerado por muitos como a principal ferramenta para detectar regiões com diferentes potenciais produtivos.

Vale destacar que existem variações de produtividade provocadas por diversos fatores, o que pode dificultar a interpretação das suas causas. Portanto, recomenda-se que conclusões mais concretas sejam feitas após alguns anos de coleta de dados e análise da área.

Para obter um mapa com dados confiáveis, é importante calibrar corretamente os sensores, além de coletar e analisar os dados com cuidado.

Sensoriamento

Refere-se a um conjunto de técnicas para obter informações sobre alvos como plantas e solo. Essas abordagens são vitais para o monitoramento das lavouras, a geração de indicadores diagnósticos e a aplicação de insumos em tempo real, sem depender de mapas de recomendação pré-gerados.

Foram desenvolvidos diversos tipos de sensores, integrando informações de diferentes fontes e níveis em sistemas que facilitam tomadas de decisão rápidas, seguras e acessíveis aos produtores. Eles podem ser divididos em direto e remoto:

  • sensoriamento direto — quando o sensor faz contato direto com o alvo (solo, planta, fruto, etc.), como é o caso de sensores de pH, penetrômetros, entre outros;
  • sensoriamento remoto — quando o sensor não tem contato direto com o alvo (imagens de satélite, sensores de biomassa etc.).

Sensores

Já contamos com modelos para análise de solo, desenvolvimento de culturas e até para pulverização de plantas daninhas.

Os sensores de solo são empregados para coletar dados sobre umidade, textura, compactação, salinidade, resíduos da colheita e outros aspectos. Alguns desses fornecem informações indiretas que se correlacionam com o atributo que se deseja analisar. É realizado por meio de condutividade elétrica e, para avaliar a compactação do solo, são utilizados penetrômetros elétricos.

Os sensores de plantas representam outra aplicação cujas informações podem auxiliar na tomada de decisões ou ser utilizadas em equipamentos que aplicam insumos em tempo real, medindo suas características. A maioria desses sensores opera com base no princípio óptico do sensoriamento remoto, sem necessidade de contato direto com o alvo. Um exemplo é o clorofilômetro.

Por fim, ao utilizar o índice de biomassa NDVI, é possível identificar plantas daninhas em uma lavoura dessecada e aplicar o defensivo de maneira localizada e individualizada. Isso contribui para a redução de desperdícios e um melhor alinhamento entre tecnologia e sustentabilidade na agricultura.

Biotecnologia

No campo da agricultura, um dos principais resultados da biotecnologia é o desenvolvimento das plantas geneticamente modificadas, também conhecidas como transgênicas. No entanto, há inúmeras outras aplicações que se expandiram com os avanços recentes da ciência, como o surgimento das ferramentas de edição gênica.

Um exemplo marcante dessa transformação é a adoção da tecnologia Bt (Bacillus thuringiensis) em variedades de soja, milho, algodão e cana-de-açúcar.

Por meio da modificação genética, essas culturas passaram a produzir uma toxina presente naturalmente nessa bactéria, que é letal para diversos insetos-praga. Isso reduz a dependência de defensivos agrícolas, contribui para a diminuição do impacto ambiental e aumenta a eficiência na produção.

Dessa forma, as tecnologias biológicas, que envolvem a manipulação e a exploração dos recursos genéticos, são destacadas na agropecuária com o auxílio de técnicas avançadas como:

  • biologia sintética, que abrange diversos estudos em genômica e fenômica de plantas, animais e microrganismos;
  • produção de biomoléculas, entre outros sistemas biológicos.

Já olhando para o futuro do agronegócio, o uso de tecnologias inovadoras como CRISPR e RNAi apresenta um enorme potencial transformador.

O CRISPR permite a edição precisa e eficaz de genes de forma mais rápida do que as técnicas tradicionais de engenharia genética. Essa velocidade e eficiência têm o potencial de facilitar o desenvolvimento frequente de cultivares resistentes a pragas, superando os desafios encontrados nas técnicas iniciais de biotecnologia.

Por sua vez, o RNAi representa uma nova abordagem para o controle biológico de pragas. Essa tecnologia pode silenciar genes específicos em pragas e patógenos, efetivamente neutralizando sua capacidade de causar danos. Não só possibilita uma intervenção mais precisa, como reduz o impacto ambiental ao minimizar a necessidade de agentes de controle químico.

Automatização

A automação no campo é uma realidade cada vez mais comum. Veículos agrícolas autônomos, como colheitadeiras e tratores, operam de maneira independente com Inteligência Artificial (IA) para cumprir tarefas como aragem do solo, plantio e colheita.

Esse processo melhora a eficiência operacional, reduz custos e libera a mão de obra para outras atividades mais estratégicas no campo. Outra inovação que surpreende é a aplicação de drones para análise de campo. Entre os modelos, podemos citar:

  • drones para mapeamento aéreo — já é possível detectar falhas no plantio, pragas, doenças e deficiências nutricionais nas lavouras, e esses dados são empregados para criar mapas NDVI;
  • drones para irrigação — sensores hiperespectrais, multiespectrais ou térmicos instalados no drone fazem essa identificação e, assim, permitem que o agricultor direcione o sistema de irrigação precisamente para as áreas que precisam do recurso;
  • drones para pulverização — possibilitam que os defensivos sejam aplicados de forma rápida e eficiente, por meio do mapeamento da área utilizando um sistema de sensores de laser e ultrassom.

Internet das Coisas (IoT)

Com a ajuda da IoT, o rastreamento em tempo real de máquinas (e outros ativos) se tornou possível. Desse modo, proporciona ao produtor informações precisas sobre localização e estado operacional e traz benefícios significativos em termos de logística, além da possibilidade de uma excelente manutenção preventiva.

Essas vantagens também permitem a otimização do movimento das máquinas agrícolas na fazenda e asseguram que estejam posicionadas conforme o planejado.

Para esse cenário, já existem softwares de gestão que auxiliam no monitoramento de equipamentos, bens de consumo e pessoal, tanto no campo quanto no escritório. Essas ferramentas substituem o uso de planilhas físicas e oferecem análise de dados mais rápida, segura e eficiente, o que melhora a gestão da lavoura.

Um exemplo é a Jacto Next, um sistema que proporciona controle abrangente da fazenda, automatiza processos, organiza os fluxos de trabalho e integra os funcionamentos dos maquinários em um só lugar e de maneira simplificada.

Quais as melhores práticas de agricultura sustentável?

Separamos alguns pontos que mostram como a junção entre tecnologia e sustentabilidade na agricultura acontece na prática. Veja!

Conservação de recursos

A implementação de práticas conservacionistas é vital para manejar de forma sustentável os recursos do meio. Diversas medidas podem ser adotadas para mitigar a erosão do solo e aproveitar melhor os insumos, como:

  • aumentar a cobertura vegetal;
  • adotar o plantio em curvas de nível;
  • implementar o sistema de plantio direto;
  • praticar rotação de culturas;
  • aplicar a consorciação;
  • manejar as capinas;
  • realizar calagem;
  • adubar de maneira adequada.

Integração de culturas

Para esse cenário, podemos exemplificar a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). Trata-se de uma estratégia agropecuária que combina diferentes sistemas produtivos — agrícolas, pecuários e florestais — em uma mesma área.

Pode ser implementada por meio de cultivo consorciado, sucessão de culturas ou rotação, visando proporcionar benefícios mútuos para todas as atividades envolvidas e melhor alinhamento entre tecnologia e sustentabilidade na agricultura. Esse modelo integrado visa:

  • otimizar o uso do solo;
  • aumentar os níveis de produtividade na mesma área;
  • integrar a pecuária de maneira harmoniosa;
  • melhorar a eficiência no uso de insumos;
  • diversificar a produção;
  • gerar mais renda e emprego.

Tudo isso é feito de forma ambientalmente sustentável, contribuindo para a redução das emissões de gases de efeito estufa ou sua mitigação.

Economia circular

Um sistema circular na agricultura promove a preservação de recursos renováveis e facilita o retorno de nutrientes essenciais ao solo, para a sua regeneração natural. Além disso, essa economia se fundamenta em manter o valor ao longo do tempo e focar a durabilidade, a reutilização, a remanufatura e a reciclagem.

Isso acontece porque ela promove o uso eficiente de materiais de base biológica antes de reintegrá-los ao sistema natural, para agregar valor aos resíduos, criar subprodutos que possam ser reaproveitados como insumos ou explorar novas oportunidades de mercado.

Agricultura agroecológica

É um modelo agrícola comprometido com a produção de alimentos, que integra princípios ecológicos para alcançar sustentabilidade social e econômica, em harmonia com o meio ambiente.

Essa abordagem promove a justiça social, ética e inclusiva, além de ser economicamente viável, para dar prioridade à produção familiar e camponesa, bem como suas formas organizacionais.

Isso inclui a adoção de práticas de cultivo diversificadas, como consórcios agroecológicos, que estimulam a saúde do solo. A gestão integrada de pragas e doenças, junto à conservação e ao uso eficiente dos recursos hídricos, visa melhorar a fertilidade do solo por meio de práticas de manejo adequadas.

Quais as políticas de tecnologia e sustentabilidade na agricultura?

As políticas públicas desempenham um papel crucial para impulsionar a tecnologia e a sustentabilidade na agricultura, pois também facilitam o acesso dos agricultores a inovações e práticas agroecológicas. Dessa forma, promovem a diversificação da produção e fortalecem a segurança alimentar e nutricional.

Para isso, é preciso atender às necessidades presentes sem comprometer a capacidade das futuras gerações de suprirem suas próprias necessidades, para garantir o crescimento econômico contínuo sem esgotar os recursos.

À medida que os governos priorizam questões ambientais em suas agendas e a sociedade se conscientiza dos impactos do atual modelo agrícola, surgem políticas públicas específicas. Acesso a crédito, reforma agrária, pesquisa, extensão rural, gestão e educação ambiental são fundamentais para promover o desenvolvimento da agricultura familiar sustentável.

Esse desenvolvimento não se limita a uma abordagem econômica focada em nichos de mercado. Ele também busca maior equidade social, preservação de recursos naturais e produção de alimentos saudáveis.

Quanto às leis, a Política Nacional do Meio Ambiente, conforme estabelecida pela Lei nº 6.938/1981, foi pioneira ao definir normas para proteção ambiental no Brasil.

Promulgada na década de 1980, essa legislação estabeleceu critérios fundamentais para o licenciamento ambiental de empreendimentos no país. Ainda, regulamentou a utilização dos recursos ambientais e instituiu a obrigação de compensação por danos decorrentes de atividades poluidoras.

Para as inovações voltadas para a tecnologia e a sustentabilidade na agricultura, conforme divulgado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a descarbonização tem se tornado um tema de crescente importância.

Para promover a adoção de tecnologias e melhorar a eficiência das propriedades rurais, os agricultores têm acesso a linhas de crédito e suporte.

Em Minas Gerais, o Programa de Agroinovação para o Desenvolvimento Territorial Sustentável (LabAgroMinas), uma iniciativa conjunta entre o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) e a Embrapa, está incentivando práticas que visam reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) de 50% para 30%.

À medida que surgem desafios globais como o crescimento populacional e a escassez de recursos, a junção entre tecnologia e sustentabilidade na agricultura emerge como uma aliada para enfrentar essas questões. A integração de inovações com práticas conscientes e políticas públicas é fundamental para garantir esse processo.

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